Admirável mundo novo
Aldous Leonard Huxley
RESENHA

Um futuro onde a tecnologia molda o comportamento humano, e não a moral, pode parecer um conto de ficção científica afastado da nossa realidade, mas ao mergulhar nas páginas de "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, te deparas com um espelho sombrio e perturbador do presente. 📡
Escrito em 1932 - sim, mil novecentos e trinta e dois! - o livro antecipa um universo distópico, um "admirável" novo mundo onde a individualidade é sufocada pelo controle social e a ânsia desenfreada por prazer. No centro dessa colmeia sabemos está John o Selvagem, um ponto de ruptura entre o passado e o futuro, carregando consigo todo o peso existencial de ser humano em um mundo desumanizado.
Huxley não só previu tecnologias que sequer cogitávamos, como a engenharia genética e a psicofarmacologia, mas também apresentou uma crítica feroz a nossa comodidade e conformismo. Ironicamente, sua história aterradora está mais próxima de nós do que nunca. Os personagens aqui não são meros fantoches numa alegoria: cada um deles é um retrato nítido e doloroso das nossas próprias fraquezas e medos.
Bernard Marx, um dos chamados "inadaptados", nos faz refletir sobre a autenticidade num mundo superficial. Um mundo onde os sentimentos são erradicados, intimidade é ilegal e todos estão em busca do "soma" - um comprimido que oferece fuga instantânea dessa realidade cinza.
As crianças não conhecem família. O conceito de mãe e pai? Desconhecido, obsoleto. Encarando sua própria criação como algo ruim, a sociedade do "Admirável Mundo Novo" desmontou o núcleo familiar para garantir que a à subjugação ao sistema fosse total. Cada indivíduo é uma peça na engrenagem, mas e você, que leu até aqui? Como você se situaria em tal universo?
Huxley foi um visionário, um vaticinador tão poderoso quanto Orwell, sem poupar mordacidade ao lançar críticas à busca desenfreada por entretimento, procedendo a transformar "Admirável Mundo Novo" num libelo contra a apatia. É preciso ser valente pra entender tudo nas suas entrelinhas, que, ao contrário, acariciarão sua pele com um arrepio incômodo pelo medo de estarmos já quase ali.
A receita de Huxley é simples, mas fatal: tire a dor, o desconforto e qualquer emoção genuína de humanos e você obtém uma cadáver social fantasiado de progresso utópico. O livro amplifica um coro, mais audível e penetrante que jamais: "não vendas tua alma ao entretenimento fácil".
E acaso a grandiosidade deste livro já for enigma suficiente para você, considera os titãs das letras que esta obra influenciou. Anthony Burgess, inspirador de Stanley Kubrick numa das obras mais controversas do cinema, ficou aufórico após ler "Admirável Mundo Novo". O fardo filosófico inquieta McLuhan nas suas previsões sobre a aldeia global. De Margaret Atwood com sua "Conto da Aia" a tantas outras influências culturais: Huxley continua a reverberar por todo canto.
Ler "Admirável Mundo Novo" é quase uma questão de sobrevivência espiritual e intelectual no nosso tempo de hiper-conectividade e insatisfação perpétua. Tens coragem? Você consegue suportar enxergar um reflexo tão nítido de nossa realidade em um "mundo novo," admirável e devastador em sua lucidez?
🚨 Te desafio! A cada página virada, tua alma oscila entre um mar de emoções - ora reverberando o pavor da mediocridade, ora desejando paixão, ora abominando tudo o que achava que sabia e sentia. Um eufórico gerador de reações imperdíveis - o testo vos convida a uma imersão cuja profundidade você talvez jamais seja capaz de atingir por completo (e nem deveria). Suma da mesmice e encare aquele que invocará um vírus perene de inquietação esta noite...
Vá, lê; eu seguro a tua mão. 🌌
📖 Admirável mundo novo
✍ by Aldous Leonard Huxley
🧾 312 páginas
2013
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