Água funda
Ruth Guimarães
RESENHA

Gabriela, uma pequena cidade do interior, envolta pelas águas do rio Paraíba, guarda segredos e histórias que transcendem gerações. 📜 Com "Água funda", Ruth Guimarães convoca cada um de nós a adentrar nos corredores da memória coletiva e individual, um caminho serpenteante que revela os recônditos da alma.
Essa obra não é, de forma alguma, um simples livro a ser lido; é um mergulho num rio mítico de memórias, desejos e lutas. A caudalosa narrativa de Ruth envolve o leitor em uma teia hipnótica de culturas africanas, indígenas e europeias que se entrelaçam, formando o tecido pulsante que é a essência do Brasil. 🌍
A escrita de Ruth, uma das primeiras romancistas afro-brasileiras, é uma sinfonia de vozes ocultas que exalam as dores e os triunfos de uma gente invisível para muitos, mas essencialmente resistente e vibrante. Seus personagens são complexos, envoltos em dilemas palpáveis, enquanto cada rio, montanha e trilha parece dotado de espírito, clamando por ser ouvido.
Mas engana-se quem pensa que "Água funda" é apenas uma coletânea de histórias passadas. O texto captura magistralmente a eternidade dos mitos e os encaixa no contexto de uma sociedade em transformação. 🌪 A visão de mundo de Ruth Guimarães é explícita aqui: o passado é indistinguível do presente, e seu entendimento é a chave para decifrarmos nosso futuro.
Em suas páginas, encontramos a corajosa e misteriosa Ambrosina, a who dá vida a lendas ancestrais. Também temos Tiburcina, uma jovem assombrada pelo amor e pelos revezes de um destino escravo. Há ainda os ecos de bruxas serpenteando pelas sombras, atraindo e repelindo com sua sabedoria antiga.
Ambientado no literal "no dedo de deus", a poderosa serra do mar, cada linha do romance é um borbotão de folclore e realismo, entrelaçados para despertar emoções intensas. Sabe aquele tipo de leitura que você começa e simplesmente não consegue parar? Ruth nos prende numa teia mesmerizante de palavras.
E não se pode ler "Água funda" sem reconhecer o panorama histórico que deu origem à obra. A escrita de Ruth emerge de um período pós-guerra, onde o Brasil rural se encontrava engalfinhado entre a tradição e a modernidade. Foram tempos inflacionados por contrastes sociais, exploração e apagamento de culturas minoritárias, todas brilhantemente desvendadas nas linhas da autora.
Pergunte a leitores e críticos: "Água funda" recebeu aclamação monumental por sua veridicidade folclórica e profundidade enigmática. "Apaixonante", "sensível", "transcendente"- são alguns dos adjetivos fervorosamente usados por leitores que se entregam ao universo rudesco e mágico que a obra acolhe.
Carrego comigo um impacto musical, ressonante daqueles ritmos, falas e cantigas que Ruth preservou para nós. Ao final, você é deixado não simplesmente arrasado pelas emoções, mas revitalizado com uma nova consciência, emergindo como o sol após uma tempestade brilhante em águas fundas.
Sim, caro leitor, você não apenas irá querer ler "Água funda" - você de fato precisa. 🌊🎭 Com uma dose de coragem e curiosidade, cada página desse livro lhe desafia e convida a decifrar os enredos que desenharam a inerência do Brasil: tão diversificado, e ao mesmo tempo, uma esfera singular desejosa de compreensão. Deixe-se levar.
📖 Água funda
✍ by Ruth Guimarães
🧾 200 páginas
2018
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