Água viva
Edição comemorativa
Clarice Lispector
RESENHA

Não se lê Clarice Lispector impunemente. "Água Viva: Edição Comemorativa" atinge seu coração com a precisão de um raio, devastando, eletrizando e, ao mesmo tempo, transportando-o para um turbilhão de sensações indescritíveis. Em páginas que revelam uma autora perdida entre delírios e luzes ofuscantes, você encontrará a sua própria essência. Pronto para se despir diante de si mesmo?
Numa narrativa que desafia qualquer tentativa de categorização, Lispector lhe convida a escutar a melodia do instante presente. Cada linha parece gritar uma urgência, um clamor pela intensidade do viver. Clarice despedaça a linearidade do tempo e, nessa completa anulação, ela tece uma urdidura onde só o aqui e o agora têm uma existência verdadeira.
Este é um livro que testa os limites da linguagem. Em "Água Viva", o leitor se perde e se encontra em frases que são, ao mesmo tempo, estranhamente familiares e radicalmente outras. A protagonista, um alter ego da própria autora, não tem nome, mas é uma presença avassaladora - te envolve, te desarma, te derruba com reflexões sobre arte, amor, morte e existência.
Clarice era reconhecida por seu espírito inquieto e sua busca incessante por algo que está além das palavras. Filha de uma família judaica ucraniana que se mudou para o Brasil fugindo dos horrores da perseguição, sua escrita sempre traz uma profundidade quase mística, uma busca espiritual oculta sob os veios torturados da prosa. "Água Viva" não é apenas um livro; é uma oração aos fragmentos da vida. ✨️
Leia os trechos iniciais e sinta um colapso provocado pela simplicidade de notar o extraordinário no cotidiano. Está ali, na confusão proposital da linguagem, uma tentativa de apalpar o intangível. Parágrafos soltos, imagens díspares e elípticas, saltam de modo a tornar sua leitura uma experiência visceral. Ao pegar este volume nas mãos, lembre-se: há uma densidade capaz de perfurar sua alma.
Clube do Respeitável Paúra, na rede social "Goodreads", diz que "Ler Clarice é estar constantemente apaixonado pelos mistérios mal resolvidos que definem a humanidade." E ele está terrivelmente certo. A narrativa é uma jornada introspectiva dos sentidos, talvez a mais próxima possível da tradução literária do êxtase. Ao terminar, o silêncio das últimas palavras será acompanhado de eco, um vazio côncavo donde brotam filosofias e epifias da madrugada.
No momento da publicação da primeira edição, o Brasil vivia os anos sombrios da ditadura militar. E, enquanto a opressão tentava calar vozes, Clarice com "Água Viva" fincava bandeiras de liberdade dentro do próprio ser humano. O contexto histórico enobrece ainda mais sua escrita, mas é no desvendar a consciência que a verdadeira libertação acontece.
Prepare-se para uma leitura que dilacera e cura simultaneamente. "Água Viva: Edição Comemorativa" não é para ser compreendida de modo habitual, vulgar, mas para ser sorvida lentamente, para tecer seus efeitos sutis e duradouros. Após saboreá-la, tudo que parecia estável nas ideias e sentimentos pode entrar em colapso - para reemergir renovado e criativo como nunca.
Críticas? Sim, há quem acuse o livro de excessivamente hermético, mas isso apenas realça seu valor. Diante do mistério, cresce em claridade: não foi feito para agradar, mas para tocar fundamente, em ressonância perfeita ao que há de sublime e insustentável na natureza humana. Profundamente transformador, e em todos os graus essenciais, "Água Viva" resgata o que há de mais luminoso e sombrio em você. Na epifania pós-leitura, prepare-se para reaprender a sentir a vida enquanto o mundo retorna em vivacidade nova, visível, mais vibrante e dolorosamente impressionante. Terá você fôlego para tanto? 🌊✨️
📖 Água viva: Edição comemorativa
✍ by Clarice Lispector
🧾 96 páginas
2020
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