Ah, É?
Dalton Trevisan
RESENHA

Ah, É? de Dalton Trevisan é uma obra que desafia a superficialidade da vida cotidiana com sua escrita afiada e observadora. Em apenas 128 páginas, o autor entrega uma experiência literária que vai além do trivial, oferecendo um mosaico de situações que, à primeira vista, podem parecer comuns, mas que revelam a complexidade das relações humanas. Cada conto é um convite para refletir sobre nossas próprias vivências, e isso é o que transforma esta leitura em algo essencial para qualquer amante da literatura local.
A genialidade de Trevisan está em sua capacidade de compressão e síntese. Ele não precisa de grandes arcos narrativos ou personagens profundos para provocar emoções. Os textos são curtos, diretos e cortantes, como um riso nervoso em uma reunião familiar. É como se cada página te empurrasse para o abismo do cotidiano, fazendo você perceber que a vida está repleta de absurdos, ironias e nuances não ditas. Você se vê reavaliando suas próprias experiências em um cenário onde o familiar se torna inesperado e o trivial, um campo fértil para a análise.
A prosa de Trevisan é rápida e, ao mesmo tempo, incisiva. Através de um olhar crítico, ele nos apresenta a alienação e a superficialidade das relações sociais. Os contos são como pequenos espelhos que nos fazem questionar: quantas vezes você já se sentiu deslocado em meio a uma multidão? Ou quantas conversas superficiais você já teve, apenas para cumprir o protocolo da convivência? Em um mundo saturado de interações digitais e redes sociais, a obra te faz refletir sobre o que realmente importa.
As opiniões em relação a Ah, É? são polarizadas. Alguns leitores aclamam a capacidade de Trevisan de capturar a essência da vida urbana com suas críticas sutis, enquanto outros a consideram um mero amontoado de situações cotidianas que carecem de enredo. Essa discordância é, na verdade, um testemunho do poder provocativo do texto. Se por um lado alguns sentem que a obra é uma janela para as mazelas da sociedade, por outro, há quem a veja como uma simples repetição do que já se conhece.
O mais fascinante é que, ao longo de sua carreira, Dalton Trevisan influenciou gerações de escritores, como a jovem escritora Mariana Enriquez e o romancista Andréa del Fuego, que encontram inspiração na crueza e na ironia do cotidiano. Essa capacidade de ressoar no tempo e no espaço faz com que seus escritos sejam atemporais, desafiando a noção de que tudo já foi escrito.
Ler Ah, É? é como mergulhar em um mar de reflexões e questionamentos. O que você realmente sabe sobre as pessoas ao seu redor? O que as suas interações diárias dizem sobre você e sua vida? Esta obra não deve ser lida apenas; deve ser vivenciada, sentida. Ao finalizar a última página, você não só terá explorado as nuances da sociedade, mas também terá reavaliado o seu próprio papel nesse jogo insano que é a convivência humana. E, ao invés de respostas prontas, encontrará mais perguntas - talvez essa seja a maior lição que Trevisan nos legou.
📖 Ah, É?
✍ by Dalton Trevisan
🧾 128 páginas
1994
E você? O que acha deste livro? Comente!
#dalton #trevisan #DaltonTrevisan