Baratas
Scholastique Mukasonga
RESENHA

O título Baratas, da autora franco-ruandense Scholastique Mukasonga, é um grito visceral e angustiante que ecoa as sombras de um passado recente, marcado pelo genocídio em Ruanda. Neste relato poderoso, Mukasonga mergulha em suas memórias, revelando não apenas a brutalidade da guerra, mas também a força do laço familiar que resiste entre a dor e a esperança. A obra não é apenas uma leitura; é uma experiência que exige sua atenção, que te obriga a confrontar a fragilidade da vida e a resiliência da memória.
A voz de Mukasonga é incisiva e poética, cortando a narrativa com a precisão de uma lâmina. As baratas, simbolizando a invasão de um mal inerente à sociedade, tornam-se o reflexo da desumanização que permeia a história. Quando você lê, sente a presença dessas criaturas como um lembrete constante do que a humanidade é capaz, para o bem e para o mal.
Os leitores que se aventuram nas páginas deste livro são compelidos a fazer uma viagem emocional que pode ser desconfortável, mas essencial. O estilo direto da autora, entrelaçado com suas lembranças vívidas, provoca reações intensas. Críticos destacam o domínio do tema, com muitos afirmando que Mukasonga traduz em palavras a dor de um povo, enquanto outras vozes levantam preocupações sobre a intensidade emocional que a obra provoca. No entanto, essa mesma intensidade é o que faz Baratas ser uma leitura que transforma e expande a compreensão sobre o que é viver numa sociedade marcada por traumas tão profundos.
Mukasonga não se limita a descrever horrores; ela também ilumina os pequenos momentos de beleza, a força das conexões familiares e a luta pela sobrevivência. É um manifesto que desafia o espectador a não fechar os olhos para a história, que, embora dolorosa, é profundamente necessária. É uma chamada à ação, uma lembrança de que o passado não deve ser esquecido, mas sim confrontado.
No contexto histórico em que a obra foi escrita, é impossível ignorar o peso das memórias de Mukasonga. A Ruanda do genocídio é uma ferida aberta que exige acolhimento e reflexão. O uso da literatura como ferramenta de resistência e preservação da cultura é uma estratégia poderosa que muitos autores africanos, como Chimamanda Ngozi Adichie e Ngugi wa Thiong'o, têm utilizado para trazer à tona as vozes silenciadas pela história.
Com um impacto que reverbera além das páginas, Baratas é também um convite para o leitor se tornar um agente de mudança, um defensor da memória e da verdade. As palavras de Mukasonga não são apenas sobre Ruanda; são sobre a condição humana em sua totalidade, sobre a luta contra a injustiça e a busca pela dignidade.
Ao terminar a leitura deste livro mágico e triste, você não sairá ileso. As baratas, essas criaturas desprezadas, se transformarão num eco persistente em sua mente, levando você a questionar tudo o que sabe sobre compaixão, memória e a inevitabilidade da história. Não se trata apenas de uma obra literária, mas de um chamado à resistência contra o esquecimento, um apelo para que, juntos, possamos construir um futuro mais justo e humano.
📖 Baratas
✍ by Scholastique Mukasonga
🧾 192 páginas
2018
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