Bom Crioulo (Clássicos Hiperliteratura Livro 36)
Adolfo Caminha
RESENHA

Bom Crioulo, de Adolfo Caminha, é mais do que uma obra literária; é um grito visceral que ecoa na alma do leitor, uma viagem ao tumultuado coração da sociedade brasileira do final do século XIX. Ao mergulhar neste romance, você não apenas se depara com a trama de um amor proibido e devastador, mas também adentra o labirinto profundo das relações raciais, da homossexualidade e da marginalização em um Brasil que, em muitos aspectos, ainda clama por compreensão.
Caminha, com uma prosa intensa e carregada de lirismo, nos apresenta a história de Pedro, um marinheiro que se vê dividido entre o desejo e a realidade de uma sociedade opressora. A forma como o autor revela os anseios de Pedro faz o leitor sentir a angústia e a paixão ardente que permeiam sua vida. O romance é um retrato cruento e poético de um amor que desafia as convenções sociais, convidando você a experimentar a vertigem do desejo que transborda das páginas.
O contexto histórico não pode ser ignorado: aqui, Caminha escreve sob a sombra de um Brasil que se reconstrói após a abolição da escravatura. Sua escrita é um lampejo de coragem, um convite à reflexão sobre temas que continuam pertinentes. O autor é um precursor em sua abordagem de um amor homoafetivo em um cenário em que a sociedade era, e ainda é, envolta em tabus. Ao passar as páginas, você será confrontado com a brutalidade da exclusão social e a luta por um espaço onde o amor possa florescer, mesmo que em meio a feridas abertas.
Opiniões sobre Bom Crioulo variam. Alguns leitores exaltam as qualidades literárias de Caminha, destacando sua habilidade em capturar a essência de um amor que não se pode conter. Outros, porém, criticam a narrativa sob a alegação de que a prosa é densa e, em certos momentos, excessivamente sentimental. Essas divergências revelam a complexidade da obra e, ironicamente, reforçam a importância de discutir seus reais significados e impactos.
Não é apenas uma leitura; Bom Crioulo é um convite à reflexão profunda sobre a identidade, a sexualidade e as estruturas sociais. Se você já se sentiu à margem, se já viu o amor ser tratado como crime, este livro é um espelho de sua realidade. É impossível não se emocionar com o destino de Pedro, que, como muitos de nós, busca pela aceitação em um mundo que se recusa a permitir sua existência.
Caminha nos empurra a encarar a própria hipocrisia da sociedade, e se você ainda não leu, há um pavor inconfundível em deixar essa obra passar. O sentimento de urgência é palpável enquanto você se engaja com a luta de seu protagonista. Ao terminar a leitura, prepare-se para não apenas olhar para o mundo ao seu redor com outros olhos, mas para sentir a chispa que incendeia sua própria história. O que Bom Crioulo nos ensina não são apenas os limites do amor, mas também a força que temos de buscar a liberdade e a aceitação, mesmo que a um custo elevado.
📖 Bom Crioulo (Clássicos Hiperliteratura Livro 36)
✍ by Adolfo Caminha
🧾 164 páginas
2014
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