Coprólitos

Marcatti

Em "Coprólitos", Marcatti nos leva a uma viagem visceral e provocativa, onde a matéria fecal se torna o portal para reflexões profundas sobre a existência humana e a sociedade contemporânea. Esse título, que pode inicialmente parecer repulsivo, é, na verdade, uma ode à desconstrução dos tabus que cercam o corpo e os aspectos mais sombrios da vida cotidiana. Com um estilo que mistura a crueza do underground à profundidade filosófica, o autor nos confronta e provoca, uma experiência que é tanto revigorante quanto desconcertante.

As páginas deste livro são um convite ao abismo: aqui, o que se apresenta em primeira análise como o desprezível se torna o símbolo de um mundo que tem medo de se olhar no espelho. O que será que somos, senão a soma dos nossos excrementos? A obra faz um esforço não apenas para questionar, mas para levar você, leitor, a sentir a repulsa e a beleza que coexistem inegavelmente nas realidades da vida. Este paradoxo é o começo de uma reflexão necessária sobre a aceitação do nosso ser essencial-imerecido, humano e, sim, muitas vezes imundo.

Como um espelho distorcido, "Coprólitos" ecoa as inquietações surgidas nas últimas décadas, numa sociedade que insiste em varrer para debaixo do tapete as suas mazelas. A crítica a esse binômio entre escuridão e luz é uma constante na narrativa, que se desenrola como uma risada estridente na face da seriedade do nosso cotidiano. Algumas reações dos leitores evocam desconfiança e aversão, enquanto outros vibram em um reconhecimento profundo das camadas ocultas que a obra expõe. É uma amalgama de vozes que revela nosso dilema contemporâneo sobre o que é 'palatável' e o que é 'impensável'.

Marcatti não se limita a explorar a obscuridade; ele atua como um arquétipo de provocador. Em um contexto histórico repleto de crises e polêmicas, desde a revolta social até o crescente desejo de autenticidade, o autor transforma a repulsa em beleza, desafiando-nos a reformular percepções e a buscar a verdade sob a superfície. O universo underground do autor gera ecos em vários artistas contemporâneos, como o próprio Rafael Grampá, que compartilhou de sua ousadia em reconhecer que a arte fervilha na interseção entre o sublime e o grotesco.

Os críticos mais apaixonados chegam a afirmá-lo como um divisor de águas da literatura, enquanto aqueles mais conservadores expressam seu horror e descontentamento. Entre as opiniões, a maioria flerta com a ideia de que, afinal, a arte deve desafiar e perturbar. A indiferença a esses desafios só perpetua um status quo que ignora a crueza da vida.

"Coprólitos" é um convite não à repulsa, mas à realização: não podemos evoluir o que está escondido. Cada palavra, cada ideia, cada imagem desafia o seu ser a reconhecer o que é crú. Este não é apenas um livro, mas uma experiência sensorial e emocional que o levará a questionar não apenas o que você consome na literatura, mas o que consome na vida. Ao final, você poderá se deparar com a pergunta que ecoa mais alto: o que você faz com o que lhe é dado-tanto no campo da arte quanto no da existência.

📖 Coprólitos

✍ by Marcatti

🧾 160 páginas

2016

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