Justino, o retirante
Odette e Barros Mott
RESENHA

A trajetória de Justino, eternizada nas páginas do livro 'Justino, o Retirante', não é apenas uma leitura; é uma jornada avassaladora e dilacerante pelos desertos emocionais e físicos do sertão nordestino. A narrativa contada por Odette de Barros Mott mergulha profundamente nas veias pulsantes do Brasil, onde cada parágrafo exala o perfume árido da terra seca e o suor amargo da sobrevivência.
Da primeira à última página, somos tragados pela força avassaladora que move Justino, um ser humano comum dotado de uma resiliência que só se encontra nos mitos e lendas. Ele nos conduz através de um labirinto de desolação, onde cada passo dado serve como um golpe direto na nossa indiferença cotidiana.
O que faz deste livro uma obra-prima não é apenas o cenário devastador e caótico, mas a destreza com que Mott nos faz sentir cada palmo de terra rachada, cada madrugada fria sob a lua nordestina e cada batida acelerada dos corações que lutam para não se render. Em meio à catingueira e à caatinga, Justino enxerga a esperança como uma miragem, mas a segue com a obstinação de quem carrega a própria fé como um estandarte sagrado.
De uma maneira quase miraculosa, a prosa de Mott transporta o leitor para dentro das irremediáveis situações de pobreza, loucura e abandono. Nota-se que a autora bebeu intensamente da fonte do regionalismo e do realismo brasileiro, tal qual Graciliano Ramos e Euclides da Cunha. Cada palavra aqui é um golpe de realidade e, ao mesmo tempo, um canto de solidariedade e compaixão. 🌿
Então, quais são os demônios que Justino enfrenta? A esse respeito, cada página do livro parece uma prece sussurrada nas ruínas da alma humana, onde o sofrimento se mistura com lições de humanidade raramente vistas. Entre a geografia implacável dos sertões e os rostos marcados pelas vicissitudes da vida, surgem figuras inesquecíveis, personagens secundárias que personificam a bondade e a maldade em suas formas mais puras e brutais.
Para quem anseia por um entendimento mais profundo da condição humana e dos dilemas existenciais que a acompanham, 'Justino, o Retirante' oferece uma travessia inesquecível - uma daquelas onde o leitor ao fechar o livro não sabe se sente um alívio libertador ou um choro engasgado que nunca sai. Ao ser este retrato cru e sincero da jornada eterna do indivíduo contra os monstruosos desafios da vida, o livro desvela aquilo que muitos preferem esconder: a dor, a angústia, o triunfo e a superação.
Repleto de densidade emocional e reflexiva, o livro ainda nos chama para fora da nossa zona de conforto. O leitor EXPERIENCIA o calor abrasador do sertão e a opressão das injustiças sociais como nunca. Não raro, essas palavras impedirão algum desavisado de dormir confortavelmente à noite, consciente de que um exemplar tão visceral repousa na estante da sala.
Com sua narrativa, Mott inspira não apenas um desespero utópico, mas uma celebração dolorida da humanidade que sobrevive em cada um de nós, mesmo nos contextos mais cruciais e desesperadores. 🔥
Nenhum livro é uma ilha e 'Justino, o Retirante' se interliga ferozmente como uma resposta ao mesmo tempo acusatória e afetiva às desigualdades sociais. Não há como negar o grito abafado de revolta que ecoa entre as linhas, muito menos a empatia universal que a autora convoca em nós.
Talvez seja impossível ler este livro sem ver-se refletido de alguma forma em Justino - um ciclope moderno, navegando seu caminho particular de dor e esperança em um mundo que pode ser insuportavelmente cruel e belamente humano ao mesmo tempo. E aí, quem você realmente quer ser depois dessa experiência? Quantos desertos emocionais você ainda tem coragem de enfrentar na sua própria vida? 🌅
📖 Justino, o retirante
✍ by Odette e Barros Mott
🧾 144 páginas
2019
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