Madame Bovary
Gustave Flaubert
RESENHA
Uma mulher aprisionada em seus próprios desejos, vivendo uma vida sufocante e desesperadora, em busca de algo que a sociedade nunca lhe prometeu: liberdade e um amor avassalador. "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, é um tour de force emocional, inesquecível, transformador.
📜 Quando Flaubert expôs ao mundo "Madame Bovary" em 1856, ele demoliu, com uma maestria cruel, as ilusões românticas que permeiam o casamento e a vida provinciana. A obra, que escandalizou a sociedade da época e levou o autor ao tribunal por ofensas à moral pública, é uma verdadeira aula sobre a complexidade das emoções humanas e as frustrações sufocantes de expectativas quebradas. Em uma França provinciana, sob a sombra esmagadora do conformismo burguês, Emma Bovary é um furacão preso em uma gaiola.
Emma, a jovem esposa do médico Charles Bovary, tenta em vão encontrar na vida conjugal a paixão exaltada que lia nos romances passionais. Cada batida de seu coração está repleta de um desespero que só aqueles que já sentiram o peso da monotonia entenderão. Seu espírito indomável e suas esperanças esmagadas fazem dela um personagem profundamente relatable, ao mesmo tempo que irritante. 😠
No coração do drama, somos arrastados pelos amores e pelas traições de Emma. Ela nos obriga a questionar: o que realmente queremos da vida? Seremos nós também vítimas das ilusões que criamos? Ao longo das páginas, seus adulterios, gastos luxuosos e a constante busca pelo prazer imediato acabam manchados com a tinta da inevitabilidade de sua tragédia. 💔
Gustave Flaubert construiu "Madame Bovary" como um intricado tapete emocional, com cada fio narrativo cuidadosamente posicionado. Altos e baixos operam como uma sinfonia de cores e sentimentos. Sua escrita é pura prosa poética, detalhando com exatidão as minúcias da vida comum, e, paradoxalmente, elevando essas mesmas minúcias ao extraordinário. Flaubert nos joga em um oceano de descrições tão vívidas que sentimos o aroma dos jantares provincianos, o toque dos tecidos caros que Emma veste e a opressão dos seus quartos tediosos. 🌸
O influente Jean-Paul Sartre declarou que Flaubert era "o mais subjetivo dos escritores." Ele analisou a autopiedade e a autoilusão com uma precisão cirúrgica que obriga o leitor a refletir sobre suas próprias motivações e misérias. Ernest Hemingway e James Joyce absorveram e ressignificaram essa precisão em suas próprias obras. Madame Bovary, deste modo, atravessou o século XIX e ainda atormenta nossas consciências até hoje. 📅
Numa conjuntura histórica onde a mulher era vista apenas como apêndice de seu marido, Emma representa a insurgência. A luta por escavar uma identidade própria em meio às dormências impostas por um patriarcado sufocante e inescapável. Seu clamor silencioso e, ao mesmo tempo, devastador torna-se uma leitura obrigatória para quem deseja compreender o que ser humano verdadeiramente implica: o eterno embate entre desejo e realidade. 😥📚
Diferentes gerações e diversos críticos possuem visões distintas de Emma Bovary. Enquanto uns a taxam de inconsequente, uma verdadeira vítima das novelas e luxos que consome, outros a veem como uma trágica heroína que luta desesperadamente por um sopro de felicidade autêntica em um mundo indiferente. Certo é que todos, sem exceção, são puxados abruptamente para dentro de sua voragem emocional incontrolável.
Para mergulhar em "Madame Bovary", você não precisa ser fã de romances clássicos, basta ser humano. Flaubert torna impossível não se relacionar com alguma dimensão do sofrimento de Emma. E ao final, a leitura da sua vida pode deixar em nós aquela sensação agridoce. Fechar o livro será como sair de um sonho, ou um pesadelo, mais intensamente acordado do que nunca. 🌙
📖 Madame Bovary
✍ by Gustave Flaubert
🧾 368 páginas
2020
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