Memórias póstumas de Brás Cubas (edição de bolso)
Machado de Assis
RESENHA

Memórias Póstumas de Brás Cubas é um convite insano para um banquete de reflexão, onde Machado de Assis derrama suas palavras como névoa sobre uma sociedade em transformação. O protagonista, Brás Cubas, é um defunto que narra sua vida - ou melhor, como a morte pode ser uma bênção para enxergar os absurdos da existência. Desde a primeira frase, você é fisgado por um humor mordaz, repleto de ironias e críticas sociais, que te transporta para o Brasil do século XIX, um ambiente de elites em decadência e esperanças desfeitas.
Imagine-se junto a Brás, nas escuras cavidades do além, observando a vida que deixou para trás. Aqui, ele se torna um dos maiores críticos da hipocrisia humana, pincelando os retratos de uma sociedade cheia de moralismos, mas incapaz de autenticidade. Os casais que se amam em segredos, os amigos que não hesitam em trair, os devotos que se esquecem do próximo em nome de uma fé distante. Em cada personagem, Assis escancara as falhas do ser humano, desnudando a alma antes do sepultamento, uma verdadeira lufada de ar fresco que nos faz questionar nossa própria humanidade.
Os leitores se dividem. Muitos exaltam a genialidade de Assis, sua capacidade de revelar o que está escondido sob camadas de aparências. Outros, no entanto, ressentem-se com o tom cínico e o desespero das reflexões de Brás. A aflição do protagonista é um espelho que provoca - a vida não vale a pena ser vivida? O que realmente importa? No entanto, este confronto com a morte tem a função de nos salvar da mediocridade; é um poderoso grito de alerta para não deixarmos que nossas vidas se tornem apenas "memórias póstumas".
Neste mundo repleto de superficialidades, Assis se ergue como um dos titãs da literatura brasileira, ecoando em autores como Jorge Amado e Clarice Lispector. Ele não apenas influenciou sua época, mas moldou a forma como encaramos nossas próprias histórias, trazendo à tona questões de identidade, classe e moral em uma sociedade em transformação. O contexto histórico em que a obra foi escrita - um Brasil na transição entre império e república, marcado por amargas verdades - faz com que a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas seja não apenas uma viagem no tempo, mas uma experiência atemporal.
Citações como "Eu sou um pobre diabo" e a célebre passagem sobre a grandeza das pequenas coisas fazem ecoar em nossos corações a essência da fragilidade humana. Este livro não é apenas uma leitura; ele nos chacoalha com suas críticas ferinas e suas reflexões profundas, nos fazendo sentir que estamos vivos no presente e não apenas "sobrevivendo" até o próximo desfecho.
Machado de Assis, com sua prosa mordaz e perspicaz, provoca sua audiência a se engajar em uma reflexão incessante e, por que não, catártica. Não há como sair ileso após essa leitura.
Ao final, é impossível não se perguntar: o que você está fazendo com a sua única vida? O que seria da história que você ainda não contou? No fim das contas, Memórias Póstumas de Brás Cubas é um poderoso espelho que reflete não apenas uma jornada de um defunto, mas a sua própria. Permita-se mergulhar nessa obra-prima e, quem sabe, você sairá dela um pouco mais sábio e, acima de tudo, amedrontado pela urgência de viver plenamente antes que o silêncio da morte se instale de vez.
📖 Memórias póstumas de Brás Cubas (edição de bolso)
✍ by Machado de Assis
🧾 240 páginas
2012
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