O cortiço

Aluísio Azevedo

Entre os becos esfomeados e o burburinho suado de um Rio de Janeiro que lutava para se modernizar no final do século XIX, brota um universo que pulsa vida, degradação e humanidade: "O Cortiço" de Aluísio Azevedo. Uma obra que escancara a face crua e desnuda da formação da nossa sociedade, causando um verdadeiro tumulto emocional em qualquer leitor que ouse atravessar suas páginas incendiárias.

Aluísio Azevedo pintou um quadro brutalmente realista de um Brasil emergente, onde a opulência e a miséria se abraçam num casamento torturante. Neste enredo vibrante, encontramos João Romão e Bertoleza, personagens que se tornam o epicentro de um universo cheio de personagens memoráveis, cada um com suas nuances, esperanças e juízos.

João Romão, um português tão determinado quanto impiedoso, encarna o sonho de ascensão social a qualquer custo. E a que custo! 👊 Bertoleza, uma ex-escrava que sonha com liberdade, torna-se peça fundamental em sua luta. O cortiço - essa microcápsula vertiginosa de histórias entrelaçadas - é um organismo vivo, que se molda e se regenera a cada aspiração e desgraça de seus habitantes.

O cenário descritivo e visceral que Aluísio Azevedo construiu é uma ilustração perversa e cheia de beleza perversa dos becos malcheirosos e das vidas ofegantes, que lutam por espaço e dignidade. É quase possível sentir o cheiro forte de suor, a umidade do ambiente, os sons abafados de uma luta implacável por sobrevivência. 🌧

Cada personagem aqui delineado é um quase-arquétipo de suas condições e ambições - seja Jerônimo, o português que se deixa domar pelo ambiente febril; seja Pombinha, a jovem que, tragicamente, transita da pureza à degradação. Essas figuras despertam risos nervosos e lágrimas sinceras, desnudando os aspectos mais profundos de nossas próprias fraquezas e resistências.

A sociedade do Brasil imperial, em vias de se tornar republicana, era um caldeirão fervente de contradições e mudanças. Azevedo, em seu estilo certeiro, captura essa transição, apontando com dedo firme a hipocrisia e a luta de classes que ainda hoje reverberam no coração da cultura brasileira. Esse mural literário de miséria e esperança atuou como farol e chicote para escritores vindouros, como Lima Barreto e mesmo Jorge Amado, que beberam da mesma fonte tumultuada para compor suas obras magnânimas.

E o que dizer do impacto colossal que "O Cortiço" teve e continua a ter? Uma obra imprescindível, que TE ARRANCA da zona de conforto e despeja uma luz implacável sobre as sombras da história brasileira. Quando teu coração finalmente repousa após a última página, resta a indomável certeza de que algo dentro de ti mudou para sempre. 💔🔥

Prepare-se para mergulhar, ou talvez afundar, nesse universo onde cada detalhe é uma explosão sensorial, onde vidas se cruzam, colidem e se marcam indelével e dolorosamente. Não se atreva a piscar os olhos, ou você pode perder um detalhe crucial dessa epopeia que ainda ecoa nos becos e vielas de nosso presente. Porque, querido leitor, "O Cortiço" não é apenas um reflexo de um tempo passado; é um espelho incômodo do que somos e do que poderemos ser. 🌟

📖 O cortiço

✍ by Aluísio Azevedo

🧾 304 páginas

2017

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