O dia da coruja
Leonardo Sciascia
RESENHA

A trama de O dia da coruja mergulha você em um universo sombrio e intrigante, onde a realidade é um labirinto repleto de intrigas, silêncio cúmplice e uma corrupção que ecoa em cada esquina da Sicília. Leonardo Sciascia não apenas narra uma história; ele revela uma sociedade dilacerada, em que a máfia se esconde nas sombras do cotidiano e a justiça é uma miragem distante. Você sente, quase como um golpe no estômago, o peso da impotência dos cidadãos diante do sistema que os oprime.
Na narrativa, a morte de um homem, aparentemente banal, é o estopim para uma investigação que logo se transforma em um verdadeiro retrato da ineficácia da lei e da coragem de poucos que se atrevem a enfrentar um monstro que parece intocável. O personagem principal, um capitão da polícia, é forçado a transitar por um terreno de areia movediça, repleto de segredos e traições, enquanto busca desvendar a verdade. O desespero da busca por respostas ressoa com uma intensidade que provoca uma reflexão profunda sobre a condição humana e os limites da moralidade.
Os comentários dos leitores evocam opiniões apaixonadas, algumas admirando a prosa afiada de Sciascia e a forma como ele tece críticas sociais de maneira tão sutil e impactante. Outros, não tão convencidos, questionam a eficácia narrativa do autor e o desfecho da trama, que pode deixar um sabor amargo. O que é inegável, porém, é a habilidade em fazer o leitor chorar por uma sociedade que não dá voz aos oprimidos, mas que ressoa com uma verdade palpável, como um mantra em tempos sombrios.
O dia da coruja não é apenas um livro, mas um grito desesperado em forma de literatura. Ao revelá-lo, Sciascia nos obriga a encarar a fúria e a traição que permeiam nossas vidas e relacionamentos. A cada página, você é sugado para um mar de sentimentos mistos: compaixão, raiva, desespero. E, quando você finalmente se afasta, fica imerso em um mar de perguntas que ecoam sem resposta.
A atmosfera opressiva, quase claustrofóbica, é um retrato vívido da Sicília dos anos 60, época em que o autor escreveu. Neste contexto, a máfia não é apenas uma organização criminosa, mas um poder estabelecido que molda e define a vida de todos, irradiando uma influência que atravessa gerações. Ao longo da leitura, o espectro da máfia se torna um personagem à parte, manipulando virtudes e vícios, desafiando a ética do cotidiano de um povo.
Por fim, as palavras de Sciascia instigam um incômodo que se aloja na alma: até onde você iria para mudar o que está errado? Deixar de lado a complacência e enfrentar o que é considerado "normal"? Este livro não deixa você em paz; ele te consome, te transforma, te obriga a acolher o incômodo da responsabilidade social. A conclusão é clara e poderosa: a verdade, quando descoberta, não traz apenas luz; muitas vezes, acende a chama da revolta. E, no final, você se pergunta: quem é realmente o "coruja"? 🦉
📖 O dia da coruja
✍ by Leonardo Sciascia
🧾 136 páginas
2010
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