O olho
Vladimir Nabokov
RESENHA

"O olho", de Vladimir Nabokov, é uma obra que desperta sentimentos que vão desde a estremecedora autoconsciência até uma intrigante contemplação sobre a identidade. Não estamos diante de um típico romance detetivesco, embora a essência investigativa permeie cada linha. Este livro, singular no catálogo do mestre Nabokov, nos arrebata para um universo onde o protagonista - cujo nome nunca sabemos - emerge de um fracasso amoroso com uma tentativa desesperada de suicídio, apenas para se encontrar, paradoxalmente, na posição de observador de sua própria existência.
Nabokov, um arquiteto das emoções e das minúcias psicológicas, nos conduz por um caminho onde a lógica se quebra e o eu se dilacera. Ele nos incita a uma introspecção devastadora: quem sou, quando ninguém me vê? O romance, breve em quantidade de páginas, é excruciantemente denso em seu tecido filosófico, construído de metáforas exacerbadas e situações de uma ironia crua.
Publicado originalmente em 1930, "O olho" é uma joia na bibliografia do autor, oferecendo um vislumbre do autor russo antes da explosão mundial com obras como "Lolita" e "Fogo Pálido". Sob a sombra do totalitarismo crescente na Europa, Nabokov concede um mosaico sombrio e cortante dos dilemas identitários do século XX, embuído com a sagacidade de sua prosa e a complexidade de suas ideologias.
Explorando o próprio suicídio como uma passagem para a observação passiva do mundo que ele deixou, Nabokov desafia a narrativa linear e intensifica os conflitos internos de seu protagonista-espia. É um inquietante estudo sobre a alteridade, que nos força a encarar nossos demônios internos e a questionar a veracidade de nossas percepções. Aqueles destemidos leitores que ousam mergulhar nas 112 páginas são abraçados por uma reflexão lancinante sobre a essência humana, seu papel na conformidade social e as sombras que inevitavelmente habitam a psique de cada indivíduo.
Já seria desafio suficiente esbarrar com um anti-herói que tenta comprar um lugar no mundo através de um ato ilegítimo, mas Nabokov vai além, duplicando a angústia existencial com sua escrita vibrante e inescapavelmente provocativa. Com "O olho", ele lança um feitiço literário daqueles que manipulam e jogam com a nossa relação com a verdade, a sanidade e as tênues fronteiras entre elas. 🌪
Leitores de széculo XX, como John W. Aldridge e o criticamente abalizado Edmund Wilson, sentiram as reverberações dessa magniloquência nabokoviana. Wilson, em particular, garimpou a obra para extrair reflexões que ampliam o entendimento do isolamento do exílio, paralelo à vivência do próprio Nabokov afastado da Rússia.
Se a Alma e o subconsciente humano fossem vastos mares turvos, "O olho" não é apenas a embarcação que te leva ao centro desse oceano - é o próprio furacão que transforma a travessia em uma odisseia de tormentas internas.
Você não percorreria um desses minotauricos labirintos sem um desejo visceral de plena resolução emocional e de confrontar as frágeis bases de quem acredita ser. Então, abra este livro e permita que Nabokov o transporte, com toda a sua maestria, para o epicentro do mais enigmático tipo de espelho - aquele que você percebe no olhar do outro. 👁
📖 O olho
✍ by Vladimir Nabokov
🧾 112 páginas
2011
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