Pescadores e Roceiros. Escravos e Forros em Itaparica Século XIX. 1860-1888
Castellucci Junior
RESENHA

Pescadores e Roceiros. Escravos e Forros em Itaparica Século XIX. 1860-1888 não é apenas um livro; é uma viagem visceral ao passado escravagista do Brasil, um portal que nos expõe às complexidades da luta pela liberdade e à resiliência da cultura afro-brasileira. Ao adentrar as páginas desta obra de Castellucci Junior, somos confrontados com as realidades duras e cruas que moldaram a sociedade da ilha de Itaparica, em um arco temporal que vai de 1860 a 1888, ano da abolição da escravatura.
Cada parágrafo é como uma correnteza do mar que banha a ilha, levando o leitor a um mergulho profundo nas origens das relações sociais e econômicas que caracterizavam a cultura local. Os pescadores, homens que dominavam as águas, e os roceiros, cultivadores da terra, são apresentados não apenas como protagonistas de suas histórias, mas também como figuras ancestrais de um passado que clama para ser escutado. A narrativa é pungente, pulsante, fazendo ecoar as vozes silenciadas de escravos e forros que lutaram com bravura por dignidade e identidade.
A obra traça um retrato fascinante da vida cotidiana, revelando o entrelaçar dos modos de vida, as tensões sociais e as interações que definiram a comunidade na época. Engenhos, casas, ranchos e praias se tornam cenários vivos nos quais Castellucci traz à tona relatos, impostos de um tempo marcado por opressão e esperanças. O autor, com suas análises meticulosas, nos força a refletir sobre as hierarquias raciais e a resistência que floresceu por detrás da brutalidade da escravidão.
Os comentários de leitores são uma montanha-russa de emoções. Enquanto alguns aplaudem a pesquisa profunda e o compromisso de Castellucci em dar voz aos oprimidos, outros questionam a densidade da linguagem e a complexidade da abordagem. A crítica, por vezes, apontada como um obstáculo à fluidez da leitura, revela, na verdade, a profundidade de uma obra que se nega a ser superficial. É uma leitura que exige e recompensa investimento emocional, uma imersão que pode ser desconfortável, mas igualmente necessária.
A importância de Pescadores e Roceiros transcende a literatura acadêmica. Ele contribui para uma compreensão mais ampla da formação da identidade brasileira, evocando a memória coletiva que, por muito tempo, foi enterrada sob camadas de silêncio. Ao trazer à luz a resistência cultural dos forros, Castellucci lança um desafio a nós, leitores contemporâneos: reconhecer as feridas do passado, mas também as vozes que emergem em meio à dor, reconstruindo o que foi perdido.
Nesse sentido, essa obra não é apenas sobre Itaparica ou sobre a história de um povo; é um chamado à reflexão sobre quem somos hoje e como a luta por justiça e igualdade continua a ecoar em nossa sociedade. Assim, ao concluir a leitura, a sensação que fica é de presságio, clamando por mudança, por uma nova percepção de que o passado é uma parte intrínseca do nosso presente, e que cada um de nós tem um papel na construção do futuro.
Não fique de fora desse mergulho intenso e transformador. Pescadores e Roceiros é um convite irrecusável à reflexão profunda sobre a liberdade, a resistência e a identidade de um povo que, à margem da história, nos ensina a valorizar nossas raízes e lutar por um amanhã mais inclusivo e justo.
📖 Pescadores e Roceiros. Escravos e Forros em Itaparica Século XIX. 1860-1888
✍ by Castellucci Junior
🧾 296 páginas
2007
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