Quincas Borba
Machado de Assis
RESENHA
Te convido a explorar o rio tipicamente brasileiro que Machado de Assis desvelou para o mundo em "Quincas Borba". Neste enredo, somos empurrados sem espuma para uma realidade nua e crua - e tão magnífica quanto cruel - de um homem simples e suas complexidades arrepiantes.
Henrique, nosso protagonista, é como cada um de nós, aspirando além dos olhos ofuscados pela banalidade do cotidiano. Mas ah... Machado não faz as águas calmas; ele delicia a tempestade quando apresenta ao jovem Rubião uma herança peculiar: a filosofia do Humanitismo, ensinada por Quincas Borba, um filósofo louco que nos tenta, como seres insaciáveis de significado.
O contexto fin-de-siècle do Rio de Janeiro se torna vivo! Rubião, tragado por sua ingenuidade, partilha das estranhezas de uma ascensão tão imponderada quanto sonhadora. Com pedradas narrativas nas vidraças da sociedade, Machado, o gênio assombroso, pintou o quadro das contradições humanas mais básicas: ganância, poder, ilusão e decadência.
Quando Rubião recebe essa herança - oh, não se trata meramente de riquezas materiais - brota um terreno de contundente fragilidade. É a chegada às glórias e aos abismos do espírito humano. Ali, o leitor sente-se espremido entre paredes de um labirinto psicológico, um labacéu onde cada dobradura esconde segredos inquietantes.
E que dizer da filosofia do Humanitismo? Não há corrosão mais deliciosa à alma do que tentarmos perscrutar as perplexidades de Quincas Borba. Como não se arrepiar através desse universo onde "o homem é um deus de si mesmo, mas esse deus, ao fazer o bem ao próximo, aniquila ao próximo"? O autêntico yin-yang do divino deboche que a mente de Machado urde.
As personagens, elas se revelam despidas de véus! Cristiano Palha e Sofia. Disso são estes que gravitam ao redor de Rubião, a tal engrenagem surrada pela ambição, intensificando a fricção das suas próprias ambições. O que fazem a sua manipulação tão crua que você, leitor, vacila entre aceitação e repulsa!
As ruas descritas por Machado de Assis elevam-se até nós! Não há como caminhar pela urbe sem o peso de onde estivemos - e Rubião ilustra tudo isso com cada passo trôpego e confuso cumprido pelas pedras do tempo.
As críticas vorazes sobre a desigualdade social e os abismos mascarados entre a opulência e a pobreza penetram como ferro em brasa, inflamando a percepção leitora até o sangramento. Rubião mata sua sanidade; sua misantropia abraça a loucura. Essa busca frenética por uma felicidade engasgada pela perpétua insatisfação, ecoando a própria ruína da inclusão.
Os que chegaram após Machado, os herdeiros literários de sua tragi-comédia, desenharam o novo palco da literatura brasileira. Seu espectro paira em Guimarães Rosa, na pungência de Clarice Lispector, até os desafios éticos de Rubem Fonseca. É a biblioteca imaginária do universo bufante de mensagens.
Pergunte a si mesmo: quanto tempo mais você pode passar desconectado dessa verdade desesperadora e subversiva que o "Quincas Borba" oferece? Cada página entregue a nós se infiltra, se agarra, transmuta a percepção mundana e nossos compassos interiores até que risadas e gritos ecoem silentes.
Quincas Borba! Machado não só te obriga a seguir a trilha de Rubião, mas convoca uma busca insaciável em cada coração, na espiral vertiginosa da humanidade!
Entregue-se!
📖 Quincas Borba
✍ by Machado de Assis
🧾 360 páginas
2012
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