Resistência
Affinity Konar
RESENHA

Diante das sombras densas e tenebrosas do campo de concentração de Auschwitz, somos introduzidos à angústia e esperança através dos olhos penetrantes de duas irmãs gêmeas. "Resistência" de Affinity Konar não é simplesmente um livro sobre o Holocausto, mas uma experiência visceral que te arranca do chão seguro e te lança no inferno nazista de uma maneira brutalmente poética.
Stasha e Pearl são duas faces de uma moeda marcada pela dor e pela indomável capacidade de sonhar em meio ao impossível. Em um enredo arrebatador e sufocante, Konar nos permite adentrar no infame bloco do doutor Mengele, cujo sadismo monstruoso foi sentido por milhões, mas cujas aberrações ganharam nova perspectiva sob a visão inocente, mas não menos resiliente, das irmãs protagonistas.
Este é um daqueles livros que abrem feridas profundas na alma, mas ao mesmo tempo floresce uma curiosa aceitação do inexplicável. Affinity Konar pavimentou com maestria uma estrada de desespero e redenção, onde seguimos cada passo das gêmeas com a respiração presa e o coração em frangalhos. É impossível ler sem sentir o cheiro de medo impregnado nas páginas, sem ouvir os ecos sepulcrais dos gritos e lamentos através das descrições meticulosas da autora.
É inescapável notar as críticas fervorosas que dividem a obra entre a exaltação à sensibilidade trágica e o recrudescer das terríveis memórias do Holocausto. Konar é incisiva, de uma sensibilidade que nos resgata de nossa apatia, impelindo-nos a refletir sobre até que ponto a crueldade humana pode chegar - e até onde a resiliência pode levar alguém à sobrevivência.
Embora alguns críticos argumentem que a obra flerta com o exagero ao tornar lirismo o horror da história, é imprescindível destacar a relevância do estilo envolvente que examina com profundidade a daemoníaca capacidade humana de atrocidades, sem perder, entretanto, as faíscas de humanidade que brilham entre os escombros.
"Resistência" traz nuances que lembram os clássicos como Primo Levi e Elie Wiesel, e não é à toa que já figura em recomendações ao lado dos alicerces da literatura da Segunda Guerra. Nos coloca face a face com a personalidade perturbadora de Mengele, que parece quase inimaginável em sua morbidez, mas que, por outro lado, evidencia a inquebrável força de vontade de Stasha e Pearl - personagens que desde a primeira página são intrínsecas ao desenvolvimento e catarse do leitor.
Konar narra com uma destreza menos comum ao banal do gênero historicamente documentado do período nazista, evocando nuances emocionais compondo um cenário ao mesmo tempo grotesco e belo, onde beleza é um ato de resistência, cada suspiro de esperança uma revolução.
São infindáveis as discussões filosóficas e morais que este livro provoca. Entende-se, quase como se ressurgissem das cinzas, a pertinência constante de revisitar factos históricos pontuados pela desumanidade.
Depois de ler "Resistência," cada batida de seu coração será diferente, cada pensamento terá um quê de renovação condenatória da ignorância histórica, e como uma teia entranhada, te guiará para atravessar vales profundos de empatia e revolta, sem um só segundo de repouso.
Como é possível ficar alheio a essa tragédia narrada com tinta insidiosa, perturbadora? Não é. Lendo, respirando essa obra, adquirirás não só o desejo de saber mais, mas desenvolverás uma compreensão ampliada de uma era sombria onde a resistência moral de duas irmãs gêmeas se torna um cântico universal contra a opressão.
"Resistência" te deixará inefável, mexerá com suas estruturas, e sem dúvidas, se verá obrigado a enfrentar seus próprios demônios ao virar de cada página. 🌪
📖 Resistência
✍ by Affinity Konar
🧾 320 páginas
2017
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