Ruído branco
Don DeLillo
RESENHA

O silêncio ensurdecedor da vida moderna ecoa nas páginas de Ruído Branco, uma obra-prima de Don DeLillo que captura a essência do nosso tempo com olhos afiados e uma prosa visceral. Aqui, somos confrontados com a inquietação de um cotidiano repleto de informações desenfreadas, onde a banalidade encontra a tragédia e o humor se mistura à angústia. Este livro não é apenas uma leitura; é um mergulho profundo nas complexidades da existência contemporânea.
Os personagens de DeLillo vagam por um cenário suburbano, imersos em um ruído que vai além do sonoro. Eles vivem sob a constante presença de um medo que nunca se concretiza, mas que paira no ar como uma sombra. Jack Gladney, o protagonista, é um professor de Hitler Studies, uma ironia que encapsula a habilidade de DeLillo de articular questões existenciais em meio a um absurdo quase cômico. A escolha do tema é uma crítica mordaz à superficialidade da educação, ao mesmo tempo em que provoca uma reflexão profunda sobre o que significa realmente saber.
O autor se utiliza da técnica do fluxo de consciência, permitindo que o leitor se sinta um viajante ao lado de Jack, atravessando os labirintos de sua mente e suas preocupações cotidianas. É uma experiência imersiva que nos provoca a questionar: até que ponto estamos capturados por um mundo tecnológico e consumista que nos aliena? Em nossa busca frenética por informações, o que estamos perdendo de vista? Em cada página, DeLillo nos embriaga com essa combinação de lucidez e confusão, levando-nos a uma reflexão profunda sobre a condição humana.
E as opiniões sobre Ruído Branco são tão variadas quanto os temas que aborda. Muitos críticos veneram a prosa única de DeLillo, suas descrições vívidas que transformam o banal em sublime, enquanto outros se sentem perdidos na complexidade de seu estilo. Essa polaridade é, na verdade, uma prova do impacto que a obra exerce. Ao mesmo tempo em que desafia o leitor, o instiga a interromper a sua própria rotina, uma chamada ao despertar da consciência.
Em um contexto histórico em que a comunicação é instantânea, e novas realidades surgem a cada segundo, a obra de DeLillo ressoa ainda mais. Nela, encontramos ecos de uma era em transformação, onde o ruído é constante e a compreensão raramente se concretiza. A forma como a sociedade contemporânea lida com o medo e a incerteza, temas presentes em Ruído Branco, podem ser espelhos de nossa própria realidade, onde a vulnerabilidade é uma constante.
É esse jogo entre o real e o imaginário que torna a experiência de leitura tão intensa. Cada linha arrasta você para um turbilhão de pensamentos, emoção e, frequentemente, desconforto. Não se trata de uma narrativa linear, mas de uma explosão de ideias que desafiam suas convicções e fazem você refletir sobre a fragilidade da vida e a inevitabilidade da morte. DeLillo, com sua escrita incisiva, toca nas feridas da condição humana e, por isso, você não pode se dar ao luxo de ignorar essa obra.
A cada página, Ruído Branco revela-se um espelho distorcido, revelando nossa própria superficialidade e a luta interna que enfrentamos ao tentar dar sentido à existência. É uma leitura essencial para quem busca entender não apenas a obra de DeLillo, mas também a si mesmo em um mundo barulhento e muitas vezes caótico. Não há como sair indiferente dessa imersão; é uma experiência que desafia, provoca e, acima de tudo, transforma.
📖 Ruído branco
✍ by Don DeLillo
🧾 320 páginas
1987
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