Shiva
A. B. Yehoshua
RESENHA

Shiva, de A. B. Yehoshua, é uma obra que transborda reflexão e provocações. Desde as primeiras páginas, o leitor é lançado em uma jornada pela complexidade das relações humanas, onde os elos familiares se entrelaçam com a fragilidade da vida. O autor, um dos gigantes da literatura israelense, não apenas narra uma história; ele escava fundo nas emoções, levando-lhe a confrontar suas próprias nuances e dilemas.
Neste romance, Yehoshua coloca em destaque a morte de um pai e o impacto disso sobre a sua família, uma alegoria poderosa sobre perda, identidade e o inexorável ciclo da vida. A obra transpira um sentimento de melancolia, mas também de esperança, revelando que a morte não é o fim, mas uma transformação. Como você se sentiria ao perceber que cada despedida carrega consigo a possibilidade de recomeços? Essa é a chave que Yehoshua nos oferece.
Os personagens são multidimensionais, cada um representando uma faceta da experiência judaica e, por extensão, da condição humana. Ao ouvir as vozes das mulheres, a dor do protagonista e as memórias que se entrelaçam, é como se você estivesse sentado ao redor de uma mesa, em uma casa onde as histórias são vigiadas pelo olhar atento de antepassados que nunca se vão completamente.
Leitores têm quebrado um silêncio quase doloroso ao falar sobre essa obra. Alguns a consideram uma obra-prima, destacando a profundidade psicológica apresentada por Yehoshua, enquanto outros a veem como um labirinto de emoções que, à primeira leitura, pode parecer confusa e pesada. Críticas pontuais questionam o ritmo do livro, considerando-o vagaroso em certos trechos, no entanto, é nessa pausa que a profundidade do sentimento humano se revela. Ao contrário da literatura que busca rapidamente capturar a atenção, Shiva exige a sua contemplação.
O contexto histórico é palpável - a obra foi escrita em um momento de turbulências no Oriente Médio, refletindo as complexas relações entre os israelenses e os palestinos, e, ao mesmo tempo, mergulhando em questões universais sobre pertencimento e identidade. Yehoshua apresenta uma visão que, embora impregnada de dor, é imbuída de um desejo inabalável por entendimento e paz.
Desfrutar de Shiva é como ser envolto em um abraço apertado que, enquanto acolhe, também provoca desconforto. A cada página virada, há uma nova camada a ser descoberta - não apenas sobre a narrativa, mas sobre você mesmo. O impacto dessa obra não se restringe ao fechamento do livro; suas reverberações permanecem, incutindo uma necessidade de reouvir as vozes silenciadas, as lições não aprendidas e a vida que persiste diante da morte.
Entender Shiva é entrar em um diálogo íntimo com sua própria humanidade, um convite a refletir sobre as suas próprias questões familiares, suas memórias e os laços que nos unem, mesmo quando as separações são inevitáveis. É uma verdadeira ode à resistência do espírito humano, um grito de esperança em meio ao luto e um lembrete de que, mesmo em momentos de crise, é a conexão com o outro que nos redime.
Se você ainda não mergulhou nesta obra, está perdendo uma vivência rica e transformadora. Não se permita ser o último a descobrir as profundezas do coração humano como Yehoshua tão brilhantemente revela.
📖 Shiva
✍ by A. B. Yehoshua
🧾 536 páginas
2000
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