Tchau
Ricardo Cury
RESENHA

Um estrondoso "Tchau!" ecoa por entre as páginas da obra de Ricardo Cury, como se uma onda gigante se erguesse prestes a arrebentar na costa da nossa consciência. O autor não apenas se despede; ele arrasta os seus leitores a um mergulho profundo nas águas turvas da experiência humana, levando-os a confrontar as verdades mais incômodas sobre a vida e, sobretudo, sobre a morte.
Com uma prosa que transita entre o poético e o brutal, Cury pinta um quadro vívido onde emoções são expostas como uma ferida aberta. Através de suas palavras, você se vê compelido a refletir sobre aquilo que mais teme: as despedidas. Olhando para o lado escuro da existência, o autor habilmente articula a fragilidade das relações e a inevitabilidade do fim. Não há escapatória. O leitor é colocado de frente para a própria mortalidade, como um espelho sorrateiro que revela nossa verdadeira face.
A recepção de "Tchau" não foi unânime. Enquanto alguns leitores se renderam à intensidade emocional da leitura, afirmando que as palavras de Cury são "como um soco no estômago", haja vista a coragem com que ele aborda os temas da perda e da renovação, outros criticaram o tom sombrio da narrativa. Essa polarização é um indicativo de que a obra evoca sentimentos fortes, merecendo ser lida. A forma como Cury contrasta a dor da separação com a beleza dos sentimentos vividos faz o coração pulsar em compasso frenético.
O contexto em que "Tchau" foi escrito, um período marcado por incertezas sociais e individuais, reverbera nas páginas como um eco angustiante. Essa atmosfera pesada não é apenas decorativa; ela influencia e intensifica a experiência de leitura, levando o leitor a se perguntar sobre suas próprias despedidas e reencontros. Não é apenas a história de um adeus, mas um convite à reflexão pessoal. Você já disse adeus a alguém? Que tal olhar para isso sob uma nova perspectiva?
Cury, com sua habilidade de mergulhar no íntimo, convida você a explorar a fragilidade da vida de uma forma visceral. O modo como ele entrelaça suas próprias experiências com a universalidade da condição humana instiga e, ao mesmo tempo, acalma. Cada página vira um convite a coçar a ferida, a sentir aquela pontada no peito, porque só assim podemos entender o que estamos realmente deixando para trás.
Se a morte é um capítulo inevitável, "Tchau" transforma-se em uma reflexão profunda sobre o que realmente importa. Os leitores notam, em sua maioria, a beleza da jornada que o autor proporciona, mesmo que essa jornada não seja confortável. Esse é o poder da literatura; ela nos mostra a dor, mas também a dádiva que é estar vivo, fazer laços e, inevitavelmente, se despedir.
Ao término da leitura, a pergunta que fica é: você está pronto para dizer "tchau" ao que já não serve? Cury não dá as respostas prontas, mas nos instiga a procurar dentro de nós mesmos as lições que a vida nos apresenta, com um realismo que, embora crue, é inegavelmente transformador.
📖 Tchau
✍ by Ricardo Cury
🧾 207 páginas
2019
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