Triste fim de Policarpo Quaresma
Coleção Biblioteca Luso-Brasileira
Lima Barreto
RESENHA

Na vastidão da literatura brasileira, poucos personagens são tão desesperadoramente cativantes quanto Policarpo Quaresma, uma criação magistral de Lima Barreto. Mergulhar nas páginas de Triste fim de Policarpo Quaresma é como engolir um cálice de mel e absinto, tamanha a doçura e a amargura dessa fábula nacionalista que reverbera forte até hoje. Em seus pitacos sobre idealismo e desilusões, o livro não é apenas uma obra literária; é uma ferida exposta, uma denúncia gritante da hipocrisia politica e social que alicerça a nação. 📜✨️
Lima Barreto, outsider em seu próprio tempo, utiliza Quaresma como veículo para suas inquietações. Símbolo do nacionalismo exacerbado de um Brasil recém-república, Policarpo é o retrato do homem comum sufocado pela mediocridade alheia e traído pela própria nação que amava mais do que qualquer coisa. Sua trajetória não é apenas uma narrativa histórica, mas uma ode cruel ao patriotismo que, por vezes, transforma vêm indigência e cinismo. 📜✨️
Barreto, um homem que literalmente viveu na margem, frequentando manicômios e com um olhar sagaz que enxergava aquilo que olho algum ousava ver, canalizou seu lamento e seu espírito revolucionário em Pau-Ís, o meticuloso funcionário público de meia-idade, que sonhava em transformar o Brasil em algo grandioso. Todavia, seu anseio foi um grito solitário, um apelo insano ao mesmo tempo divino e perene.
Escrito em 1911, o romance transcende épocas e culturas. Ele fervilha em momentos de sátira, ironia e dor, deixando o leitor atônito, refletindo sobre quantos sonhadores com o peito estufado de orgulho nacionalista não viraram Don Quixotes tupiniquins - garbosos, mas ridículos; fundamentais, mas emaranhados em suas próprias irrelevâncias.
A partir do momento em que Quaresma decide difundir o tupi-guarani como idioma oficial, até sua tentativa falida de implantar uma fazenda modelo, cada escolha potencializa um novo sintoma trágico de seu fim inevitável. Amigos e leitores, se você já se atreveu a sonhar grande em meio à ninharia do cotidiano, estará espelhado em Policarpo. Se um dia ousou acreditar que um só indivíduo poderia mudar o pano de fundo de uma sociedade decadente, estará travestido no bom Quaresma, nadando contra a correnteza.
Os comentários dos leitores refletem uma relação bipolar com a obra. Aqueles que encontraram gozo nas desventuras de Quaresma exaltam sua luta quixotesca e se solidarizam com cada golpe recebido por ele. Outros, menos entusiastas, criticam a lentidão da trama e a dose cabal de teatralidade imposta pelo autor. Mas o Fernão Veloso da literatura brasileira, Lima Barreto, cultivava justamente isso: uma experiência visceral, onde a paciência evita tangenciais superficiais.
Evocar a tênue linha entre loucura e lucidez, desenhada pelo desatino "patriótico", é um golpe de maestria. Barreto nos coloca num espelho cativante e cruel.
Relendo e absorvendo essas páginas, entre risos tristes e sorrisos trágicos, você perceberá que não existe saída diante de tanta brutalidade e revelará o desespero invencível do riso cínico fomentado pela compreensão completa de que tudo oscilava em dores e mágoas.
🌀 Você está preparado para desvendar esse mix de fascínio e repulsa sem prejulgamentos ou momentos de distração? Porque esta leitura convulsionará sua alma e transformará seu entendimento sobre sonho e realidade em nosso desfecho adiado.
Ver Policarpo Quaresma é mais que contextualizar a história, é sentenciar um apedrejamento mútuo entre corpo e alma. Impossível escapar incólume dessa viagem mental. 🚀🔮
📖 Lima Barreto - Triste fim de Policarpo Quaresma: Coleção Biblioteca Luso-Brasileira
✍ by Lima Barreto
🧾 192 páginas
2018
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