Memórias póstumas de Brás Cubas
18
Machado de Assis
RESENHA

Memórias póstumas de Brás Cubas é uma obra que desafia qualquer definição simples. Esqueça tudo o que você sabe sobre literatura clássica, porque Machado de Assis cria um universo tão imprevisível como uma tempestade em mar aberto. Brás Cubas, um defunto autor, nos conduz através de uma narrativa que, longe de ser linear, é mais um caleidoscópio de lembranças fragmentadas, ironias afiadas e reflexões filosóficas que não deixam pedra sobre pedra.
Imagine um homem que, mesmo depois de morto, resolve narrar suas memórias com um tom de sarcasmo tão afiado quanto uma lâmina. Brás Cubas não perdoa ninguém, nem a si mesmo. É como se estivesse em um palco, dirigindo acusações e revelações para a plateia, sem medo de ser julgado. Ele denuncia a hipocrisia da sociedade brasileira do século XIX, mas o faz com uma leveza e humor que fazem com que você ria e, ao mesmo tempo, se sinta desconfortável.
A vida de Brás Cubas, embora recheada de eventos mundanos, ganha um contorno quase surreal sob a pena de Machado. Desde sua infância, passando por romances frustrados, até seu desejo egocêntrico de inventar um "emplasto" que curaria todos os males do mundo, cada episódio é colorido com reflexões mordazes sobre a condição humana. Não é à toa que muitos estudiosos consideram essa obra uma precursora do realismo mágico.
O autor, Machado de Assis, não escreveu Memórias póstumas de Brás Cubas no vácuo. Ele estava inserido em um Brasil em transformação, às portas da abolição da escravatura e da Proclamação da República. O Rio de Janeiro de sua época era um caldeirão fervente de tensões sociais, econômicas e políticas, e isso repercute poderosamente em sua escrita. Machado observava os costumes da elite brasileira com um olhar clínico, quase cirúrgico, revelando suas contradições e vaidades.
E os personagens! Cada um mais peculiar que o outro, como Virgília, o amor impossível de Brás, que transforma paixão em uma crítica social mordaz; Quincas Borba, com sua filosofia do "Humanitismo", que soa como uma paródia cruel das teorias de Darwin; ou Dona Plácida, a governanta que simboliza as agruras das classes menos privilegiadas. Cada figura é um espelho deformado da sociedade da época, te forçando a confrontar a realidade com uma clareza dolorosa.
Os leitores de hoje, ao mergulharem nas páginas dessa obra, podem se pegar refletindo sobre a atemporalidade das críticas de Machado. Hipocrisia, vaidade, ambição desmedida - esses temas ainda ressoam fortemente no nosso mundo contemporâneo. A genialidade do autor reside em fazer com que cada linha de seu texto ressoe como uma bofetada, que apesar de dolorosa, é impossível de ignorar.
Memórias póstumas de Brás Cubas não é apenas um livro. É um convite irrecusável a uma dança macabra com os fantasmas dos nossos próprios defeitos. Ler Machado de Assis é uma experiência visceral; é rir e sofrer na mesma medida, é reconhecer-se nas fraquezas de personagens que, apesar de fictícios, são irremediavelmente humanos.🌪
Se tem um livro capaz de mudar sua percepção sobre a vida, a morte e tudo o que há entre esses dois extremos, é este. Machado te pega pela mão, te puxa para o abismo e, quando você acha que não há mais saída, ele ri na sua cara e te empurra de volta para a realidade. E você, leitor, vai agradecer por cada segundo dessa jornada devastadora. É uma obra que te amarra e não te solta até a última página, e mesmo depois de fechá-la, sua mente continuará assolada pelas reflexões provocadas.
Machado de Assis não é apenas um autor, ele é um maestro das emoções humanas, e Memórias póstumas de Brás Cubas é sua sinfonia mais provocativa.📚
📖 Memórias póstumas de Brás Cubas: 18
✍ by Machado de Assis
🧾 200 páginas
2012
E você? O que acha deste livro? Comente!
#memorias #postumas #bras #cubas #machado #assis #MachadodeAssis