O Rei da Vela
Oswald de Andrade
RESENHA

O Rei da Vela não é apenas uma peça; é uma erupção de questionamentos e reflexões que desafiam as expectativas e empurram as fronteiras do teatro brasileiro. Escrito por Oswald de Andrade numa época em que o Brasil fervilhava com novas ideias e revoluções, esse texto é um convite escandaloso a refletir sobre a identidade nacional, a hipocrisia da sociedade e as relações de poder que ainda permeiam nossas vidas.
A obra, que se destaca como um marco do Modernismo, mergulha em um enredo que mistura o cotidiano da vida de um empresário com críticas ácidas à moral vigente. O personagem central, o Rei da Vela, encarna a caricatura do capitalista que, cercado por absurdos e situações cômicas, é confrontado por uma sociedade que se debate entre a opressão e a libertação. Ao mesmo tempo que ele busca ascender socialmente, o texto nos obriga a questionar: até onde vai o preço do sucesso?
Um dos aspectos mais instigantes de O Rei da Vela é sua linguagem provocadora e irreverente. Andrade transforma o palco em um espaço de reflexão, utilizando diálogos mordazes que alimentam a tensão entre o riso e a crítica. É impossível não se sentir compelido a rir e, ao mesmo tempo, se indignar com a realidade social que apresenta. Os leitores e espectadores são deixados em um estado de choque, obrigados a confrontar suas próprias percepções sobre a moralidade, a cultura e o papel do dinheiro na sociedade.
Críticos da época e leitores contemporâneos frequentemente se deparam com a complexidade da proposta de Andrade. Alguns exaltam a ousadia do autor, enquanto outros não conseguem digerir a maneira como ele não poupa personagens e instituições sagradas em sua sátira. Essa polarização é um testemunho da força do texto, que continua a ressoar fortemente, mesmo décadas após sua criação.
Através de suas páginas, Andrade também evoca a imagem de um Brasil que oscila entre a esperança de um futuro brilhante e a desesperança de um presente sombrio. Ele provoca uma reflexão profunda sobre a condição humana e as contradições da vida social. A peça incita sentimentos de revolta, empatia e, por que não, uma dose de esperança de que, ao confrontar os problemas, podemos caminhar em direção a um futuro mais justo.
Oswald de Andrade, que viveu intensas transformações culturais e políticas, sem dúvida, utilizou sua arte para dialogar com a realidade do seu tempo. E agora, séculos depois, O Rei da Vela se mostra mais pertinente do que nunca. Este é o momento de reavaliar nossas convicções, deixar de lado a zona de conforto e abraçar o caos criativo que a obra propõe. Não se trata apenas de um espetáculo; é uma celebração do espírito humano em sua forma mais crua e verdadeira.
Através da sua leitura, você não apenas testemunha a genialidade de Andrade, mas também se torna parte de uma conversa muito maior sobre a nossa identidade coletiva. Prepare-se para ser desafiado, incomodado e, acima de tudo, inspirado a pensar além do que a sociedade nos apresenta como normativo. O Rei da Vela não é apenas uma obra a ser lida; é uma experiência a ser vivida.
📖 O Rei da Vela
✍ by Oswald de Andrade
🧾 102 páginas
2017
E você? O que acha deste livro? Comente!
#vela #oswald #andrade #OswalddeAndrade