República do Mangue. Controle Policial e Prostituição no Rio de Janeiro. 1954-1974
Juçara Luzia Leite
RESENHA

República do Mangue. Controle Policial e Prostituição no Rio de Janeiro. 1954-1974 é um convite visceral a mergulhar nas complexidades de um Brasil que ainda vive as cicatrizes de sua história. Juçara Luzia Leite, a mente brilhante por trás desta obra, não apenas narra, mas expõe a trama densa da relação entre polícia, prostituição e poder no Rio de Janeiro durante duas décadas turbulentas. Um estudo que, ao mesmo tempo, faz pulsar o coração de quem lê e revela a crueza de uma realidade que muitos preferem ignorar.
O livro é um bálsamo e uma punhalada. As páginas não são apenas palavras; são gritos de socorro, risadas nervosas, lágrimas silenciosas de mulheres cujas vidas foram moldadas e deformadas pelos laços entre moralidade, controle estatal e a luta pela sobrevivência. Ao revisitar esse período, Leite conjura uma galeria de personagens que ultrapassam o mero estereótipo; são seres humanos que dançam na linha tênue entre a resistência e a submissão. Suas histórias, repletas de bravura e tragédia, sedimentam a importância de se discutir a marginalidade numa sociedade que insiste em rotular.
A crítica ao sistema de controle exercido pela polícia se entrelaça com reflexões sobre a prostituição, transformando a narrativa em um grito que ecoa através do tempo. Você sente a indignação ao ler sobre as táticas brutais das autoridades, enquanto vidas se desfazem sob o peso do estigma. Ao longo de sua leitura, não há como escapar da reflexão sobre o papel que a sociedade desempenha em alimentar essa dinâmica perversa. É um convite à empatia, uma convocação a olharmos nos olhos da dor alheia e entendermos que, por trás de cada história de exploração, existem sonhos despedaçados e esperanças sufocadas.
As opiniões sobre a obra são intensas e polarizadas. Muitos leitores elogiam a profundidade da pesquisa e a forma como a autora consegue tornar visível uma história minimizada por décadas. Outros, porém, debatem a maneira como alguns episódios são apresentados, questionando a imparcialidade da autora. Mas é essa discussão, essa provocação, que dá vida ao texto. Afinal, a controvérsia apenas revela a urgência do tema tratado. A prostituição nunca foi um assunto simples; é uma questão social, econômica e, por que não dizer, moral.
Num contexto histórico repleto de turbulências políticas e sociais, a República do Mangue desafia o leitor a repensar suas certezas. Ao traçar um paralelo entre as forças que atuam na cidade e os anseios de liberdade e dignidade de mulheres marginalizadas, Leite estimula um diálogo necessário sobre a condição humana e as estruturas que perpetuam a desigualdade. É aqui que reside sua verdadeira força: ela nos engaja não apenas a conhecer, mas a sentir e, mais importante, a agir.
O legado desta obra vai além das páginas - ela incita mudanças, gera debates acalorados e instiga a criação de uma consciência crítica que não pode ser silenciada. Não se trata apenas de uma leitura; é um chamado à ação, uma centelha que pode reacender as chamas da indignação e da luta por justiça social. Ao final, o que nos resta é a pergunta incômoda: estamos dispostos a olhar e agir ou preferiremos continuar a ignorar os mangues e suas histórias?🔥
📖 República do Mangue. Controle Policial e Prostituição no Rio de Janeiro. 1954-1974
✍ by Juçara Luzia Leite
🧾 138 páginas
2004
E você? O que acha deste livro? Comente!
#republica #mangue #controle #policial #prostituicao #janeiro #1954 #1974 #jucara #luzia #leite #JucaraLuziaLeite